Marshall B. Rosenberg, identificou uma abordagem da comunicação: falar e ouvir, ou seja, é um processo de receber (escutar) e dar (expressar). Essa forma de comunicação permite que as pessoas se conectem com as outras de uma maneira que a compaixão natural floresça. Marshall denominou essa forma de comunicação como Comunicação Não-Violenta (CNV), o termo “não-violência” foi relacionado com o sentido atribuído por Gandhi, referindo-se quando a violência é afastada do coração. É importante compreender que muitas vezes a pessoa não percebe que a forma como ela se comunicou foi violenta, mas dependendo do tom e a forma como foi dito pode causar mágoa ou dor para quem está recebendo.
O que é Comunicação Não-Violenta?
É uma abordagem que promove a comunicação compassiva para as pessoas se conectarem de uma forma mais empática com as outras. É possível usar essa forma de comunicação em diferentes contextos, como por exemplo, no contexto profissional, familiar, amoroso etc. Rosenberg caracteriza a CNV, como um “processo de comunicação” ou “linguagem da compaixão”.
Contribuições da CNV:
- Ajuda as pessoas a reformularem a forma como irá falar com as outras
- As palavras ao invés de serem automáticas ou repetitivas, tornam-se claras e conscientes
- A pessoa substitui uma forma de defesa ou ataque por uma linguagem empática
- Ouve as necessidades mais profundas de si mesmo e dos outros, percebendo os relacionamentos por um novo enfoque
É importante compreender que para usar essa forma de linguagem, não é necessário que a pessoa com que está se comunicando tenha intimidade ou esteja motivada a se comunicar compassivamente.
Comunicação Alienante
Essa forma de comunicação está relacionada com julgamentos, culpa, insulto, depreciação, rotulação, crítica e comparações. Além desses fatores, é uma forma de comunicação que dicotomiza as pessoas. É importante entender que rótulos neutros também limitam a percepção da totalidade sobre determinado assunto. Assim, a comunicação alienante reforça a postura defensiva, medo, culpa, vergonha e ansiedade. Quando alguém nos associa a esses sentimentos, reduzimos a probabilidade de que no futuro venham reagir compassivamente as nossas necessidades.
A maioria das pessoas foram ensinadas a usar uma linguagem que rotula e compara, ao invés de usar uma linguagem que expresse os seus sentimentos e necessidades.
Componentes da CNV:
- Observação: São ações concretas que observamos e afetam o nosso bem-estar. É importante observar sem avaliar, para a pessoa que estamos nos comunicando não se sinta na defensiva. Assim, é importante relatar as informações que foram observadas, mas sem avaliações, tendo como exemplo: “Maria passou mais de sessenta horas no escritório essa semana” ao invés de falar que “Maria trabalha demais”, pois a palavra “demais” é uma avaliação.
- Sentimentos: Identificar como se sente ao observar algo. Antes de pedir algo, é importante demonstrar o que aquilo gera para você. Um exemplo que ilustra uma forma assertiva de comunicação em relação aos seus sentimentos é dizer sinto-me frustrado ou desestimulado, ao invés de falar que sinto-me mal interpretado, pois “mal interpretado” não é um sentimento. Dessa maneira, desenvolver um vocabulário de sentimentos que nos permita identificar de forma clara os nossos sentimentos, nos conecta mais facilmente com os outros.
- Necessidade: É necessário compreender quais as necessidades estão ligadas aos sentimentos que identificamos. Além de analisar as nossas necessidades, é importante analisar as necessidades e sentimentos das outras pessoas, a partir do que o outro está comunicando.
A frase “você me irrita quando deixa documentos da empresa no chão da sala de conferências”, expressa uma comunicação alienante, pois implica que o comportamento da outra pessoa é exclusivamente responsável pelos sentimentos de quem falou. Ela não revela as necessidades ou pensamentos que estão contribuindo para os sentimentos dessa pessoa. Assim, a pessoa poderia falar: “fico irritado quando você deixa documentos da companhia no chão da sala de conferências, porque quero que nossos documentos sejam guardados em segurança e fiquem acessíveis”.
- Pedido: Após identificar a necessidade, é realizado o pedido, fala o que precisa ao invés de falar o que está de errado. Nessa etapa, é evitado frases abstratas. Uma forma de ter certeza de que a mensagem que falamos foi a mesma que recebida é pedir para a pessoa repetir o que foi falado.
A frase: “Gostaria de conhecer melhor você” é uma comunicação alienante, pois não expressa claramente uma ação específica que está sendo solicitada. A pessoa poderia ter dito: Gostaria que você me dissesse se estaria disposto a se encontrar comigo para almoçar uma vez por semana”.
É possível relacionar os quatro componentes da CNV em uma frase, tornando a comunicação clara. Um exemplo que ilustra isso é dizer: Percebo que apenas eu arrumo a cama (observação), eu me sinto incomodada em ver a cama desarrumada (sentimento), porque eu preciso chegar em casa e me sentir em paz (necessidade). Ao ver a cama desarrumada, sinto ansiedade (sentimento). Com isso, podemos dividir? Um dia eu arrumo a cama e no outro você? (pedido).
Diante do exposto, na CNV é expressado claramente esses quatro tópicos (observação, sentimento, necessidade e pedido). O objetivo da CNV não é mudar a pessoa ou os seus comportamentos, mas estabelecer relacionamentos baseados em honestidade, clareza e empatia que irá favorecer todos.
Referência: Rosenberg, M. B. (2021). Comunicação não violenta – Nova edição.