Quando os escritórios – e o cubículo –  começaram a aparecer na face da terra… Ia me referir ao final do século XIX, quando as grandes corporações se formavam e passavam a reunir muitos trabalhadores administrativos. Mas quem disse que isso tudo começou aí? Se pensarmos bem, os egípcios tinham seus escribas, a Igreja, os seus monges, o exército, seus serviços internos, a Companhia das índias…

Mas para facilitar, vamos às tais grandes organizações do começo do início do século XX, que é de onde descendemos em linha direta. Então, quando corporações passaram a necessitar de grandes contingentes para fazer frente ao trabalho administrativo, tinham que tomar a decisão fatídica de como organizar as pessoas no espaço físico. Temas mais importantes ocupavam a cabeça daqueles barões da indústria: investimentos, linhas de trem, minas, etc. A solução foi seguir a prática e a lógica correntes: os chefes teriam seu espaço para chefiar. Aliás, salas de chefe são um tema recorrente nos filmes de Hollywood, como símbolos de status também “Veja só o que você conseguiu, Harry. Aquilo que você sempre quis: uma sala grande, de esquina, com seu nome na porta!”.

E os demais?

Bem, o pessoal administrativo (clerk é a mesma palavra usada para eclesiástico, talvez aqueles copistas medievais, by the way) foi colocado no que foi chamado de bullpens. Essa palavra é usada até hoje em jogos de beisebol: o cercadinho onde ficam os jogadores se aquecendo… É bom lembrar, no entanto, que seu outro significado, o original dela, é curral. Já devemos ter visto também no cinema aquela cena de uma sala enorme, com escrivaninhas, umas coladas às outras, em linhas de dezenas de mesas, por dezenas de linhas… analogamente, um curralzinho de administrativos, pessoal trabalhando bovinamente em atividades repetitivas…

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Graças aos céus, dizem, isso mudou.

Meu amigo, mais velho, relata que não viu as paredes serem erguidas para separar os clerks, em departamentos – coisa que aconteceu nas décadas seguintes aos bullpens: a sala do Financeiro; a sala de Vendas; a sala do DP (talvez a sinalização da implantação do sistema feudal, após um esquema imperial). Mas esse amigo afirma ter sido testemunha da queda dos muros. Primeiro, as salas transformaram-se em zonas de cubículos ou … pior ainda, baias (ugh!) com paredes de 1,8 metro. Depois foram as células, conjuntos de postos de trabalho contíguos, com pequenas divisórias à altura da cabeça de uma pessoa sentada, reunindo as funções em cantos do andar. Por fim, a democracia plena, união, trabalho em equipe, proximidade, troca… as células foram suprimidas e todas as funções trabalham próximas, juntas, em íntima relação.

Novo curral?

E não é que tudo isso me veio à cabeça numa visita a uma enorme empresa localizada num dos endereços mais caros de São Paulo? Bullpen, queda do muro e … de novo curralzinho? Essa foi a impressão ao ver um andar enorme, com quase 800 metros quadrados com centenas de “postos de trabalho” em filas, em dezenas de filas. O que me pareceu foi que, apesar de estarmos numa economia do conhecimento, tínhamos voltado aos velhos tempos dos copistas medievais, os clerk. Se a economia é do conhecimento, e conhecimento implica em adquirir, compartilhar e plasmar isso nas soluções, com o óbvio reflexo no leiaute da necessidade de espaço para criação, espaço para compartilhamento e espaço (ohh!) para reflexão. Toda via, isso não via lá e nem em outras muitas empresas (além das nunca disponíveis salas de reunião).

Existem várias pesquisas apontando para a redução do desempenho das pessoas em escritórios desses chamados open plan. Outras, mostrando o aumento de doenças em quem trabalha nesses ambientes ruidosos. Por outro lado… escritórios nesse formato reduzem em até 30% as despesas. Nem toda empresa é uma Google ou outra dessas companhias do Vale do Silício com pista de skate no andar da cafeteria e jacuzzi na sala…

Como conciliar tudo isso?

Na verdade eu não sei. Perdão. Não sou especialista no tema e nem me sinto eximido de culpa pela curralização dos trabalhadores (afinal de contas, RH é uma das áreas ouvidas quando se dão as mudanças de escritório e de leiaute). Este post no blog, na verdade, não é para trazer uma solução, mas para levantar uma questão.

Portanto a questão principal aqui não é “Como combinar redução de despesas e aumento da qualidade de vida no trabalho? Escritório flexível, salas de reunião ou home office?”. O ponto crítico é “Como chegamos aqui… de novo?” O que fez com que curralizássemos nosso pessoal novamente, apesar de todo o percurso – cubículo incluído? Será que o trabalho e as pessoas foram mesmo valorizados nesse período? Ou seja, isso não seria a prova de que o mundo gira e os valores não mudam tanto: capital é Capital, trabalho é apenas trabalho?

Como diria o Chacrinha, “Eu não vim pra explicar. Vim para confundir.”– ou algo parecido.

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