Paradigma mecanicista, seus retrocessos e avanços
Antes de abordarmos o pensamento sistêmico conceitualmente, percorreremos uma jornada no tempo e espaço, a fim de compreendermos como chegamos até aqui.
Em seus estudos, a Professora Dra. Paula Sibilia sugere que os nossos corpos e subjetividades não são universais e eternos. Por fazerem parte de um ecossistema, nos adequamos às características e aos artefatos presentes em cada período de tempo e cultura.
Durante o mundo moderno, na Era Industrial, nossos corpos eram compatibilizados com as máquinas (aparelho digestivo), pois acreditava-se ser mais efetivo compreender um fenômeno complexo a partir da análise isolada de suas partes. Nas fábricas não foi diferente, as linhas de produção tornaram-se segmentadas visando à alta produtividade com baixos custos. Herdamos as fábricas, o sistema de ensino, a tecnologia analógica, o relógio e uma nova relação com o tempo, as cidades marcadas pelo funcionamento (ou mau funcionamento). Além da desconexão com a natureza, racionalizando seu funcionamento a partir da metáfora da máquina.
Tempos modernos
Em 1936, Charles Chaplin denunciava a mecanização da vida por meio desta produção clássica, retratando às condições de trabalho, relações de subordinação e as tecnologias da época na vida de um homem comum.
Da engrenagem ao digital
Com o tempo, nota-se a necessidade de recolher cada pedaço de informação a fim de montar um quebra-cabeça capaz de atribuir um real sentido ao mundo complexo, tecnológico e ambíguo que vivemos. A vida passa a se compatibilizar com a informação – uma nova janela se abre!
A vida contemporânea é, portanto, marcada pela expansão, pela informação, e pela busca constante da otimização!
Entendemos, por exemplo, que para ser uma pessoa saudável não basta se alimentar adequadamente. É necessário ingerir bons alimentos, se hidratar, ter uma boa qualidade de sono, fazer atividades físicas, cuidar das emoções visando ao bom funcionamento do organismo como um todo.
O todo e suas propriedades
No pensamento sistêmico temos o todo e suas propriedades como perspectiva. Ao dissecar um sistema em elementos isolados, suas propriedades são destruídas, tanto fisicamente quanto conceitualmente, refutando a ideia vigente na era moderna de que ao conhecer as partes conheceremos o todo. Os sistemas vivos se relacionam e são integrados entre si, formando com isso o todo. Portanto, o todo não pode ser reduzido às partes menores! Os objetos isolados entre si dão espaço às redes de relacionamento e à conectividade.
Vamos à prática?
Em uma organização é fundamental compreender como minha área, meu departamento, meu time e, finalmente, meu cargo impactam a organização! Para o desenvolvimento de determinado produto ou solução, contamos com um complexo agrupamento de times e profissionais, fluxos e processos, tecnologias e parcerias capazes de viabilizar a entrega. Neste contexto, é importante deixar no passado a mentalidade reducionista (simples, estável e objetiva) e dar lugar a mentalidade sistêmica (complexa, instável e intersubjetiva). Confira mais insights no vídeo do Gilberto de Souza sobre como desenvolver o pensamento sistêmico dentro da organização e tornar-se um profissional mais consciente.
Parábola dos cegos e do elefante
De acordo com a lenda indiana, havia sete sábios cegos que aconselhavam às pessoas que os consultavam para resolver seus problemas. Apesar de amigos, os sete sábios eram muito competitivos entre si e costumavam a discutir. Um dia, após uma discussão sobre a Verdade, o sétimo cego se aborreceu e se mudou às montanhas.
Um comerciante chegou à cidade com um elefante e lá foram os seis sábios cegos tateá-lo para entender o que era aquele animal desconhecido por todos. Um falou que era parecido com uma parede, outro com uma lança, outro com uma cobra, árvore, abano, cobra…
Até que o sétimo cego chegou com uma criança e pediu para o menino desenhar no chão a figura do elefante e descobriu que todos estavam certos a partir da sua perspectiva, com base no pedaço do animal que tateou. E afirmou:
– É assim que os homens se comportam perante a verdade. Pegam apenas uma parte, pensam que é o todo, e continuam tolos!
Uma Jornada de Compreensão Profunda
Gabriel, Coordenador de TI da solução Casting, na SER Performance, trouxe uma reflexão pertinente sobre o tema. Seria possível escapar do “reducionismo-mecanicista”? Confira:
“Para podermos pensar o que significa “Pensamento sistêmico”, temos que primeiro entender o que significa a palavra sistêmico, uma rápida busca no google nos diz que sistêmico é aquilo que é relativo a sistema ou a sistemática, o que não nos ajuda a entender nada, uma busca um pouco mais lenta nos leva a um site em que diz que na medicina algo sistêmico é algo que afeta todo o organismo, algo que afeta o todo.
Essa pequena experiência de busca, na minha opinião, tem tudo a ver com “pensamento sistêmico”, porque pensar no “todo” ou pensar em algo que afeta o sistema inteiro (ou todo o organismo) é um processo mais lento e mais profundo do que uma rápida busca ou mesmo uma pergunta para chat GPT. A ideia de “pensamento sistêmico” tem se tornado cada vez mais popular e perdido seu sentido, poucos lembram da oposição entre o modelo de “pensamento sistêmico” e o modelo “reducionista-mecanicista”.
O que cabe nesta nota, além do sempre citado clichê de que o todo é mais do que a soma de suas partes, é pensar no que significa o todo no ambiente organizacional de tecnologia da informação no Brasil em 2024, mas fazer isso é reduzir o todo à um contexto (ambiente de TI), à um momento (2024) e à um espaço (o Brasil). Talvez, isso nos indique, que nunca realmente pensamos em tudo que afeta todo o sistema, estamos sempre reduzindo as coisas sem escapar do “reducionismo-mecanicista”.”
Conclusão
Finalizamos a reflexão destacando a importância de coletar e conectar conhecimentos e técnicas acumulados ao longo da nossa jornada a fim de atribuir um real sentido às demandas deste mundo cada vez mais complexo, ambíguo e tecnológico que vivemos!
Parabéns, Paula! Adorei o conteúdo