Dizem que, quanto mais difícil a batalha, mais unida fica a tropa.
Isso acontece com os que estão no exército, mas também pelos que passam por escolas e organizações com histórias desafiadoras. Eu, que estudei em escola alemã tradicional, ainda mantenho contato com meus amigos do ensino médio, só para “tratar” e rir dos traumas que desenvolvemos…
Recursos Humanos é uma dessas áreas onde ocorrem as “rijas pelejas”. Os profissionais acabam se unindo, mesmo que estejam em empresas diferentes. É que, muitas vezes, somos os lonely rangers das organizações, os guardiões da galáxia.
Foi numa conversa dessas, num encontro com amigos de RH de longa data, que passamos a debater o efeito da atual crise sobre nossas vidas.
_“Eu acredito que as empresas aprenderam”, comentava uma colega que havia enfrentado os duros anos de 2001 e 2002 comigo.
_“O nível de competição no mercado interno, a abertura ao mercado externo e até a evolução da liderança empresarial, deixarão as empresas mais espertas nesse momento. Eles não farão o tradicional corte linear, não acabarão com as áreas de RH e não diminuirão o investimento em treinamento de forma tão dramática”.
Ao mesmo tempo em que alguns viam sobre ela as figuras de 2 anjos rechonchudos e sorridentes, banhados em luz e lançando pétalas de rosa para anunciar uma nova era, outros simplesmente riam e espantavam os querubins com flechas flamejantes:
_“E você acha que as pessoas e a cultura mudam assim tão rapidamente?”, desafiava um outro colega, um experimentado executivo de remuneração, já transformado em consultor.
_“O que vejo no mercado são as empresas, mesmo as multinacionais, retardando projetos, realizando desligamentos focados para reduzir o peso da estrutura (leia-se média gerência) e cortando investimentos em ações de desenvolvimento”.
O debate evoluiu e, naturalmente, se tornou inflamado: alguns defendiam a visão de que as empresas estavam agindo da forma burra de sempre, outros, de que elas haviam aprendido a proteger seu capital humano. Antes de que o debate enveredasse para o tema do momento – vamos reclamar do governo – resolvi propor o seguinte:
_“OK pessoal, está tudo bem. Sabemos o que as empresas não deveriam fazer e o que elas fazem de errado. Mas alguém aqui preparou algum plano para gerenciar de forma inteligente esse momento de crise que poderia compartilhar conosco?”.
Depois de alguns segundos de quase absoluto silêncio, uma moça – creio que acompanhava um de meus colegas – e que havia se aproximado discretamente ao grupinho, propôs-se a falar:
_“Eu trabalho numa empresa de serviços de tecnologia que tem uns 300 colaboradores. Lá, o que fizemos assim que terminaram as eleições, foi juntar a liderança sênior e debater como melhorar a eficiência sem perder o nosso diferencial: novos contratos tendiam a minguar e os atuais, passar por duras negociações de preço. Chegamos à conclusão de que nosso patrimônio eram os clientes, o pessoal, o ambiente e, naturalmente, nosso know how.”
Lembro que olhávamos para ela com um misto de curiosidade e descrença. Pensava comigo, que ninguém seria tão bem planejado assim e – ao mesmo tempo – tão lúcido: desde quando uma empresa considera seu ambiente um patrimônio e estabelece um plano de ação?
_“Cada líder – continuou ela – ficou responsável por buscar eficiência e reforço desses assets. Eu trabalhei com o pessoal de linha para entender os papeis, perfis e organização nos projetos. Somente nessa análise, já identificamos redundância de tarefas, necessidades de treinamento para que pessoas pudessem ser multifuncionais e também gente que deveria ser retida porque faziam o trabalho de 2 pessoas.
“Isso facilitou muito: na hora em que vieram as pressões por cortes, já tínhamos mapeado quem era essencial, que ações de treinamento eram fundamentais, etc. Sei lá, achei que fosse interessante comentar”
Foi muito engraçado ver meus amigos engasgando para dizer:
_“Claro, sem dúvida que foi interessante”.
Mesmo os de empresas mais avançadinhas em gestão de pessoas pareciam um tanto constrangidos ao ver como uma júnior tomara ações preventivas e, o pior, inteligentes. No final, a maioria já achava que aquilo não passava de uma dessas histórias açucaradas destinadas ao Prêmio Anual de alguma associação.
O grupinho se dispersou e cada qual partiu para falar do governo ou relembrar as rijas pelejas do passado e do presente: as demandas por redução de folha, a renegociação do plano médico, o corte no orçamento de treinamento…
Enfim, isso tudo foi escrito porque eu queria era mesmo entender o que as organizações estão fazendo nesse momento de crise. Por isso, aí vão algumas perguntas:
O que você tem feito? O que poderia ser feito para lidar melhor com a situação?
Aguardamos suas respostas e seus comentários.
E boa sorte!